QUEM VEM COMIGO

terça-feira, 29 de julho de 2008

APENAS

(O passado sempre começa no momento vivido...
O momento vivido nunca é presente,
passa num piscar de olhos e fica, na memória,
denso, pesado!
Somos apenas passado e futuro...
O presente não existe!)
-
Sobrou apenas
- do passado -
esse meu riso
escancarado, farto!
Que o resto
- o mais belo -
o tempo foi levando,
foi lavando,
deixando desbotado
e impreciso.
A face esfacelada no espelho.
O cabelo que perdeu o colorido.
O saldo positivo da míopia agravada
pra não contabilizar,
muito de perto,
o prejuízo!
Sobrou para você
apenas o meu riso
escancarado, farto
-------------------------
passado a limpo!
(Elza Fraga)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A FILA ANDA

Que um relacionamento não seja prisão;
que não seja enfermaria nem muleta;
mas que seja vida, crescimento
(turbulências eventuais incluídas).
(Lya Luft)



É no mínimo estranha
esta sua maneira torta
de encarar os fatos...
Escondendo o sujo
dos sapatos
no tapete
deitando a larga pança
numa rede
assobiando baixo...

Enquanto isso se retira
de fininho
da história,
apaga toda ela
da memória
brinca de cachorro morto,
num pressuposto
que nada mais
tem a ver com isso!

Vamos cair de cabeça
na real,
virar a mesa,
mudar o rumo desta prosa,
recomeçar de onde demos pausa.
Resolver de uma vez por todas
nossas pendências e pendengas...


E se afinal
o final
for a ruptura
que aguente depois
de cara dura
sem cair no choro...
Tenha decoro!

Porque eu,
meu agora caro amigo
antes amado,
já coloquei seu nominho
ad eternum
no meu bloquinho
de casos passados!

(Elza Fraga)

terça-feira, 8 de julho de 2008

RUMO AO NADA

.
All my troubles seemed so far away. Now it looks as though they're here to stay. Oh, i believe in yesterday...
(YESTERDAY / JOHN LENNON)

(Todos os meus problemas pareciam tão distantes. Agora, porém, parece que eles estão aqui para ficar. Ah, eu acredito em ontem ...)


Respiro a escuridão!
Sorvo dela cada gole
trazido pelo vento.

Olho pra frente
e só vejo
o intransponível muro,
parede imensa
feita de escuro.

Não há mais tempo.
Não há mais sorte.
Não há mais nada
nem mesmo morte!

Perdi - à toa -
a chave do futuro!

Não há mais uma condução
um trem, um bonde, um avião
que me transporte
só esta corrente negra
que me arrasta
quando passa
pro nunca mais.

Estaco exangue!

E ainda assim
não há uma só gota
de ódio
no meu sangue.

(Elza Fraga)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

SÓ A ALMA ESCREVE UM BOM POEMA

Para fazer poesia é preciso
uma boa dose de vida vivida
avidamente
sofregamente...
É preciso saber a medida- exata -
do sonho, do encanto, da magia.
É não ter vergonha da mania
ou do vício
de ser feliz a toda e qualquer hora.

É preciso aceitar que a inspiração
quase nunca existe,
fica de fora
neste exercício...

O que vem de dentro,
o que não tem jeito
e nem controle,
é a alma desnudada dos conceitos
e mistérios
Ela é a boca que fala
a mente que pensa
a caneta que escreve.

Para fazer poesia é preciso
apenas, ter alma,
uma calma e sonhadora alma
que fica a espera, a espreita,
e quando a poesia vem
ela, num ágil movimento,
mais veloz até que o pensamento,
a pega, a aceita,a molda, a conduz...
E dá a luz ao poema!
E este solto, livre, sem amarras
a recompensa
com a forma perfeita
fugindo pelos dedos a fora...
E pensa
por si só!
Se sente pronto,
vai embora,
nunca mais é seu!
O poema é ingrato
e não pertence,
nunca,
a quem o escreveu...

(Elza Fraga)