QUEM VEM COMIGO

sábado, 16 de agosto de 2008

SURPRESA!...

Somos todos predadores, numa doida cadeia alimentar.
Nos alimentamos dos que vão enfraquecendo no caminho
e, assim, vamos matando, a cada passo, mais um pedacinho
da divindade que nos habita!



Numa estranha cadeia alimentar
você, meu predador,
se alimenta
das minhas entranhas
vorazmente!

Rumina cada pedacinho
e depois,
recostado no ninho,
candidamente,
palita os dentes...

O dia há de chegar
em que os papeis se invertam
e vou ser bem mais esperta
do que pensa ou deixa...
Vou começar meu festim pela cabeça
onde esconde seus tolos miolos,
como um tesouro .

E aí não haverá retrocedência.
Só anuência,
submissão, obediência...

Terei o predador domado enfim
dentro de mim,
que sempre fui a presa.

Devo gritar
-Eureka!
ou
-Surpresa?!...

(Elza Fraga

domingo, 10 de agosto de 2008

DIFERENÇAS

.
Poema adaptado para contação de histórias, nele as diferenças fazem o prato da balança oscilar, como um pêndulo maluco que nunca se detem na resposta e peso certo...



Ele morava na cidade.
Ela no campo.
Ele era formado em letras,
miúdas e graúdas.
Ela sonhava
e sua labuta era a roça.
Ele era usuário oficial
da cara feia.
Ela contava causos,
anedotas,
bebia pinga,
e ria de qualquer besteira.
Aos domingos ele ia ao culto,
de terno e gravata,
orar pro Deus só dele.
Ela? Vendia verduras da horta
na feira.
E se passou o tempo...
Um dia,
por estas peças que a vida prega
ou por ironia,
era setembro e era primavera,
seus caminhos se cruzaram...
Se conheceram.
Ele, por orgulho e vaidade,
disse nada,
mas lhe ofereceu uma olhada
de seca pimenteira
e uma flor roubada da roseira.
Ela por ingenuidade e tonteira
enquanto a flor despetalava
se entregava
E murchou no pé a sua vida inteira!
*******************
Até hoje me perguntam
o final desta história,
pois me sabem acompanhante
dos fatos...
E aí? Ele foi morar no campo?
Ela foi para a cidade?
E eu respondo a verdade: Não sei!
Só sei que no lugar em que ela
se entregara
hoje em dia tem uma roseira
onde só nasce flor despetalada...
Nunca,
nunquinha,
deu uma só rosa inteira!
*******************
(Elza Fraga)

sábado, 9 de agosto de 2008

PARTIDA


Meninas e borboletas
(Milton Dacosta)


A vida tem cheiro de bouganvilie florido. A morte, cheiro de sangue, deste mesmo sangue
que nos correu, vital, pelas veias por toda uma existência... Quando este amigo começa a nos passar seu cheiro doce é chegada a hora dos acertos, porque o tempo está expirando...
Quem diz que a morte é visita surpresa ainda não chegou ao seu limiar! A morte traz cheiro de sangue e ventos diferentes que só o padecente sabe e sente...


Quando eu me for
não rasgue a poesia
que saiu da minha mão
porque ela guarda
um muito da minha vida,
pedaços intensos
do meu coração...

E se lhe perguntarem,
afinal,
de que me fui,
responda só isso:

Meu coração não aguentou
tanta mistura
-Beleza com cinismo,
sorriso com maldade.
E sentiu saudade
de uma outra vida,
não vivida,
diferente, iluminada,
se rendeu por fim
indo buscar outras estradas,
--------------------------------------------
além de mim!

...

(Elza Fraga)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PRECISÃO

Tem vezes que só uma fuga estratégica, para um lugar além do fim do mundo, nos salva a alma... Mas, se for uma solidão a dois fica mais fácil o resgate e, aí, a salvação é certa e para sempre!


O que me irrita
no povo
é esta mania
de viver em bando
como certos animais.
Detesto coletivo
ajuntamento
hipocrisia
vida social.
...
Ai quem me dera
pudesse ter,
nesta terra,
apenas uma tapera
como bem material.
Um moreno dentro dela
destes que gostem
de cheirar cangote
e que suporte
meu mau humor matinal
e esta mania
de ser solitária
de fugir pra dentro,
lá no meu fundo
onde ninguém me alcança...
...
O resto do mundo
gente, etiqueta,
critérios, manual,
me cansa!

(Elza Fraga)

sábado, 2 de agosto de 2008

MEIO MORTA

(É sempre um grande estranhamento o ir e vir dos amores...
Como a onda lambendo a areia da praia e depois recuando...
É sempre um jogo onde ninguém ganha, mas vai deixando
pedaços perdidos...)

-

Você chega
nem pede licença
me empurra sua presença
cara a fora
corpo a dentro
como se eu fosse
só uma qualquer
achada na esquina.
Me revira todos os avessos
e eu deixo
e ainda torço o queixo
pra ver melhor
a sua ousadia...
Depois sorrateiro
vai embora
e o silêncio que fica
machuca o meu grito
e repito
como uma maluca
seu nome
para o firmamento
que não liga
não entende, não dá bola.
só falta responder
um redondo
"não me amola!"
Deito e rolo
na cama vazia
choro torrentes
de lágrimas frias
e me pergunto mil vezes
o porque
de ainda abrir
a porra desta porta...
E é aí que eu
me rasgo, meio morta,
por você
(Elza Fraga)