QUEM VEM COMIGO

sábado, 24 de outubro de 2009

CANÇÃO DA MENINA TRISTE

 ARTE DIGITAL : FATIMA QUEIROZ
.
Era só uma menina
tinha a pele delicada
[tão linda tão linda]
um rosto
bem posto
sem choro
ou desgosto
sem bem e sem mal

a menina tinha um olho
de uma cor especial
era um olho tão bonito
era um olho abissal
[era verde era verde]
como o prado e o quintal

era um olho de menina
enfeitado de cristal

O cabelo da menina
era a luz do sol nascente
[era belo era belo]
amarelo e obediente

aceitava o pente fino
aceitava o pente quente
aceitava qualquer pente

A menina era tão clara
como a lua já no meio
do céu lindo
do céu pronto
das estrelas de permeio

era só a cor de leite
misturada com azeite
escorreguenta e manhosa
branda como a branca
rosa


A menina se encantou
pelo principe da esquina
e fugiu no seu cavalo
como fogem as meninas
que esta era a sua sina
[e este foi o seu mal feito]

Hoje ela só desencanta
corre pra longe da dança
do trabalho, corredeira,
fraldas, filhos, mamadeira

E a menina tão princesa
virou mãe
tão pequenina
que ninguém sabe
entre todos
quem é filho,
quem é sina,
quem é menino ou menina

Nunca mais a brincadeira,
o olho da cor do mar
o sal grudado no corpo

só susto do despertar
e ver que agora é a sério
acabou a brincadeira

e a menina tão bonita
ficou velha
de idade
ficou triste
de maldade
de repente

ficou feia
para sempre!

(Elza Fraga)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

SÓ--FADA

.
Era fada
linda, leve,
má e mágica.

Só uma fada.

Fluida
fugidia
escorregava

condão preso no cordão

arrastou
por todas as calçadas
meu coração
acorrentado pela mão

esmigalhou, sangrou
ralou nas pedras
como se rala
o queijo parmesão

me fez comida
bebida
me fez restos

e se hoje eu não presto
mais
pra nada

cobrem da fada!

(Elza Fraga)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

UMA PEQUENA PARADA

Estarei mais de um mes fora da net.
Volto no final de outubro. 
Fiquem na luz. Bitokitas.



sábado, 12 de setembro de 2009

AI QUEM ME DERA

.Quem me dera ser poeta
cantar o feio da vida
e transformar em beleza

proeza

Quem me dera ser princesa
entrar em conto de fada
e ser feliz para sempre

demente

Quem me dera ser presente
atado a laço de fita
deslumbre de quem me fita

bonita

Quem me dera ser poema
escrito as pressas
sem pena
rabiscado num caderno
e assinado

'ausente'

Quem me dera ser um nada
postado a margem da estrada
correndo a envelhecer

pra não querer ser o mundo

Quem me dera
não me ser

(Elza Fraga)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MÃOS CHEIAS DE DEPOIS

.
Não se goza o momento
ele passa

nem a vida
ela voa

nem os homens
eles partem

e deixam a gente
com olhar ausente
perdido
estendido pro nunca

com a mão cheia
de vazio
de gozo que poderia
e não foi

 de depois

(Elza Fraga)

sábado, 29 de agosto de 2009

CON-FUNDIDA

...
Perdeu a hora
a honra
a noção do perigo

E como diz o antigo
[e
bem mais sábio]
deitado
ao lado

'botou as perninhas
entre o rabo'

ou seria a-o contrário?

(Elza Fraga)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

'INDA AGORINHA ERA EU

.
Alguém me roubou
a casca
me tomou,
me dissolveu,
abduziu, induziu,
me transformou
me perdeu

'Inda agorinha era eu

Minha palavra não fala
quase tudo escureceu
a boca muda, fechada,
parece que enlouqueceu
de silêncio
de espreitada
de nada que aconteceu

'Inda agorinha era eu

O ar some na garganta
e fica a fome e o frio
dos que só vagam vazios
sem bagagem
hospedagem
sem documento ou registro
nas noites dos indormidos

'Inda agorinha era eu

O grito parou na porta
nem fugiu
nem se escondeu
escorregou pela lingua
mas morreu
sem ser parido

E agora é tudo breu
onde agorinha era eu!

(Elza Fraga)

domingo, 9 de agosto de 2009

ME VEJA

.
Por mais que eu me abra
me escancare e mostre
você enxerga em mim
o que não quero ser
e que talvez nem seja

e grito lá do fundo
"Por favor me veja"

Se fito o espelho
ele me mostra a outra,
a louca
que há no fundo
do meu mar calmo e azul

Só você me vê
pássaro migrante
indo para o sul

enquanto eu me sei
voltada eternamente
para o norte
olhando o horizonte

esperando a morte

(Elza Fraga)

VIDA

FORMATAÇÃO DE REGINA XAVIER
IN POEMA DE ELZA FRAGA


ENQUANTO CANTO

.
Crescem no chão
ervas daninhas
e a terra sobe
em montes

enquanto canto.

Descem raios
em diagonal
e a chuva molha
cabeças pensantes
e as nem tanto

enquanto canto.

No entanto
tudo normal no front
só a fronte que me arde
em febril
agitação
queima a mão
com que busco
o conforto

e tosco o mundo
continua a sua gira
pião
inconsequente

tonteia o olho que acompanha
o rodopio

Olho pro fundo
e vejo a verdade

o fundo do mundo
é vazio!

(Elza Fraga)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

QUANDO PARTIR



(Vou passar um tempinho entrando menos na net, mas tentarei vir
sempre que puder, não estou me afastando 'ad eternun', estou rareando
as entradas por probleminhas cotidianos.
Mas deixo uma Elza, em ótica pessoal, pra quem se interessar em saber mais
um cadinho da contadora de causos.)


Não sei porque mas a ficha caiu.
Cheguei a conclusão, hoje, que deveria me apresentar.
Algo assim como Elza Fraga por Elza Fraga.
Cansa saber que nada mais somos além de retalhos e
montagens alheias, feitas por quem nunca morou na nossa
alma inquieta.
[Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é (Caetano Veloso)]

Se eu partir deste planetinha num repente, como é praxe nas partidas,
porque nunca chega o bilhete do além, a reserva da hospedagem,
o horário de embarque e da chegada, com tempo suficiente pra
se trocar a roupa, passar um lápis no olho, retocar perfume e baton;
não quero os detratores fazendo jogo de cena, ganhos políticos,
com choradeira e fungos em cima do meu cadáver.
Nem morta quero sair desta pra melhor cheia de vírus e bactérias fungadas.
Respeito é bom e eu gosto, até na eternidade.

E também não quero aquelas histórinhas inventadas, ou a visão particular
que cada um tem de mim.
Problema do dono de cada opinião.
Elas não me interessaram em vida, não as quero na morte.
Fique cada um com a sua, no silêncio
(que é o estado mais sábio da matéria) e boa sorte!
A visão pertence ao dono dela.
Nada de fazer folclore da minha vidinha,
tão comum e ao mesmo tempo tão turbulenta.

Porque se alguém foi meu amigo o suficiente pra se interessar por mim,
quis saber o que sinto ou como sou, perguntou com honestidade e
cartas na mesa, como eu gosto e sou.
Não ficou perguntando a gregos e troianos, não acreditou nas invencionices
oralmente fantasiosas.
Não juntou pedaços e informações de fontes obscuras, ou mal informadas.
Não deu crédito a disse me disse ou maledicência.
Apenas me encontrou, olhou no meu olho e capturou minha alma.
E estes com certeza foram poucos.
O que me leva a descrer da raça (gente) homem, ser pensante(?)
na maioria das vezes.
A sorte é que existe a exceção, como em toda boa regra,
ainda tem Gente, Homem, Ser Pensante, nas maiúsculas.

E toda vez que se escutar uma história a meu respeito, seja pro bem
ou pro mal. Elogiosa ou detratora. Feliz ou infeliz. Que se pare e pense:

Se eu, moradora da própria casca, muitas vezes desconheço quem
sou realmente. Tenho reações que me assustam pela imprevisibilidade.
Olho no espelho e muitas vezes enxergo uma estranha.
Como alguém, que mora do meu lado de fora, pode saber quem sou eu?
Tem coisas que não confesso nem a mim mesma.
Então eu as ignoro, certo?
Isso leva a conclusão de que sou uma ignorante deste ser que mora comigo.
Este único ser que consegue me acompanhar 24 horas do dia.
Em alguns momentos cheio de orgulho, pompa e circunstância,
em outros morrendo de tédio, em outros, ainda menos felizes, doido
pra se livrar da minha sombra.
Ser confuso, em ebulição constante, mudando a cada minuto, em
ladeira de descida, correndo maratona contra o tempo e nadando,
sempre, contra a corrente.
Quem então poderá saber quem sou, se nem eu sei?

E por isso, quando eu partir, não se preocupe com o pouco que fui,
não tente adivinhar nuances, matizes, sentimentos.
Saiba apenas que amei cada criança, bicho, planta que encontrei
na estrada,
e vivi por isso e disso!
E doei todos os sorrisos que tinha.
E contei histórias com o cerne.
E que cada olhar curioso de um serzinho em formação escutando atento
foi meu pagamento, minha moeda.

E assim que quero que falem de mim depois que eu me for:
A Elza era apenas mais uma poeira procurando rolar pra virar,
nem que fosse pequenininha, uma pedrinha.

Que de poeira a pedra já é uma evolução e tanto!

Eu

domingo, 5 de julho de 2009

SAIDA DE EMERGÊNCIA

.
Acabou
pra sempre
repentinamente
o sorriso farto
o olho curioso
da menina
a brisa nas narinas
repetindo a esmo
que há vida
lá fora
apesar do vento
apesar do frio
apesar do fio
que saiu da linha

Agora é tudo história
que nem parece minha
e esta estranha insana
que me espia
a sombra
da porta da cozinha

ainda traz na mão
a faca que usou
para em fatias finas
cortar o coração
insosso
sem tempero

A tarde está calma
o céu azul
o sol sem medo

só a doida
em vigília
esconde
em segredo
a destruição
e mata por dentro
mais um pedaço
enorme
do seu tempo
em busca da extinção

e esquece o próprio enterro
e me dá as costas
e caminha morta

pra fora da porta

(Elza Fraga)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O PARTO DA MORTE

.
Se pudesse parir a dor
no escuro do meu quarto
abrindo o coração
em contração
dilatado como útero
prenhe
em final de parto

arreganharia a vida
nos dentes
a garganta
urraria insana
e mãos profanas
cortariam o cordão
da expulsão

abraçaria o resultado
e descartaria o feto
pra receber a bênção

do alívio eterno

(Elza Fraga)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Blogagem coletiva : 26 de junho de 2009 - dia Internacional do Combate às Drogas

.
DROGA DE VIDA
.
Por onde andará o brilho
do olhar do meu menino?
Quem foi que tirou a luz?

Foi o moço da esquina
que prometeu a viagem
e forneceu a passagem
em forma de pó
e cruz

Meu menino viajante
querendo desbravar mundos
lá onde moram estrelas
calçando ruas azuis
embarcou
e me deixou
de olho fito na estrada
passando a vida
sem vê-la,
esperando desgrenhada

E nunca mais fui a mesma
e nunca mais foi o mesmo

Agora não posso nada
contra os moços sorrateiros
que como sombras aparecem
com o elixir milagroso
que tira o desespero
alivia a tremedeira

promete a cura do medo

Se pudesse
eu tiraria
o meu menino do mundo
e de novo o geraria
numa gravidez pra sempre

nunca que o pariria
protegido no meu ventre

aquecido escutando
as cantigas de acalanto
sem ter medo de careta

Dorme eterna criança
aqui onde a dor não te alcança
não tem boi de cara preta

(Elza Fraga)

terça-feira, 23 de junho de 2009

POUCO

.
De você não quero uma única palavra
por menor que seja
destas que cabem num bolso interno
de casaco de inverno

não quero um adjetivo
destes que compram o sorriso

não quero um pronome
dos que anunciam:
pronto
lá vem meu nome
deslizando lingua abaixo

não quero um verbo,
muito menos conjugado no futuro
acenando com o eterno

quero só a esperança prometida no olhar
[se derretendo mudo]
de dias divinos
com trombetas, anjos, fadas, querubins,
e você ao centro, nu

dançando só pra mim

(Elza Fraga)

domingo, 21 de junho de 2009

SOLIDÃO

.

Solidão
quando não passa ao largo
mata.

Solidão
quando gruda
no couro do vivente
deixa doente
enfraquece
tira a calma
ensandece
muda a alma

Solidão arranca a raíz
em vez da poda

Solidão é foda!

(Elza Fraga)

domingo, 14 de junho de 2009

DESISTÊNCIA

.
Minha alma guardou
dele
o cheiro
o tempero ardido
o suor do corpo
o gosto de sal
o peso do gozo
as marcas do rosto

a chave da porta

depois passou a tranca
nas janelas
banhou-se de alfazema
vestiu o traje branco
das almas sem revolta,
deitou-se na cama
recusou o ar

e quedou-se morta


(Elza Fraga)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

VONTADE

.
Vontade louca
de comer teu cheiro
de cheirar a boca
de prender inteiro
meu corpo
nas tuas pernas
entrelaçadas
como se nada mais
tivesse serventia
gosto, jeito

ou valia

Vontade
de pairar vadia
na tua cabeça
bem no fundo
onde moram
os medos
do teu mundo
e espantar
a covardia
que corrói a mente
e te faz descrente
acreditar no fim
do mundo

no fim de mim

Vontade
de num assomo doido
te dar uma história
novinha
diferente
bem mais coerente

crua
nua

sem salamaleques

apenas a mão presa na tua
até ficar dormente
os olhos dentro
do teus olhos
e o riso misturado e junto
indo bem além
da gente

para todo o sempre
amém

(Elza Fraga)

terça-feira, 9 de junho de 2009

MEMÓRIA

.
Plante uma árvore,
faça um jardim
tenha um filho
escreva um livro
e leve a vida

sem mim

e me pense
por um momento
antes de dormir
pelo resto
das tuas noites

insones

e tenha sempre
pesadelos
cheios de medos
de urrar meu nome

na hora errada

assim
como um castigo
uma praga rogada

uma melancolia
vinda do nada
um arrependimento

uma trama

enquanto outra
divide a cama,
divide a mesa,
divide o fardo

eu fico,
parada
eterna,
calma
nos pensamentos

te machucando
a alma

(Elza Fraga)

domingo, 7 de junho de 2009

Selo "Vale a pena acompanhar este blog!"




.
Recebi de Márcia Sanchez Luz o selo Vale a pena acompanhar este blog
O selo violeta é premio e representa, segundo os seus criadores,
"as sensações que a cor violeta traz para a nossa mente".
Ele é dado àqueles blogues que têm algumas das sensações da cor violeta, a saber:
magia, encantamento, graciosidade, magnetismo e tudo aquilo que parece mágico.
Espero que aprecie e dê continuidade, fazendo o mesmo com os blogs que você
assim considera. Escolhi os seguintes blogs que distribuem poesia pela blogosfera:

ARTISTAS_SOLIDÁRIOS
Compulsao Diaria
Cosmunicando
Lilian Maial
Metamorfraseando
NUDEZ POÉTICA
Per - Tempus
© rua do mundo
Suave Coisa

sábado, 6 de junho de 2009

MÃO DUPLA

.
Ele levara
o restinho do juízo
dela
de bagagem

ela ficara,
a cara na margem
da estrada
esperando
sem revolta

que a vida tivesse
mão dupla
e passagem
de volta

(Elza Fraga)

SANGRAR POEMA

.
partir o limo
limar a vela
velar o sonho
sonhar quimera

amar a folha
mais que a flor
florir o sumo
sentir o ardor

arder a veia
sangrar o mar
cuspir centelhas
atar os laços

parir poemas
aos pedaços

Juntar os cacos

(Elza Fraga)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Dia Mundial do Meio Ambiente



.
FÚRIA DE GAIA

Sinto o teu cheiro

e sinto o teu medo
quando treme as entranhas
e cospe fogo limpo
das montanhas

de onde deveriam descer
só rios
descem pavios
incandescentes

e penso em acalanto
mas nem o melhor canto
vai te libertar

da sanha
humana


(Elza Fraga)

PRECISÃO

.
Preciso de cachorro
pra latir na minha chuva

de homem pra esquentar
o meu inverno

de poesia
pra refrescar
o inferno
que as vezes teima
em morar dentro do peito

Preciso de lua cheia
pra dar jeito
no meu escuro

e muita estrela
pra iluminar
o muro
onde debruçam as flores
do quintal
vizinho


de passarinhos
pra cantar
minhas cantigas

de fotos novas
pra moldura antiga

de desaforos
pra gritar pro mundo

Preciso de amigos
e amores
pra amaciar as dores
lá do fundo
do coração

Preciso de mão
na minha mão
olho no meu olho
e natureza
explodindo colorida

Preciso de vida.

(Elza Fraga)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

POETAR





Arte digital
Fatima Queiroz
Brasil

.
Poetar

arte de escrever,
escrever
embolar papel
e pensar
até fundir os parafusos
tortos

Poema feito
brilha no escuro
conta a que veio
mas antes seca o suor
tampona onde doeu
e esconde o duro
que se deu

(Elza Fraga)

SOBRAS

.
Se o amor fosse feito dos retalhos
sangrentos
que sobraram da gente

Seria uma peça de mau gosto
um contragosto
uma piada contada num enterro

Um erro!

(Elza Fraga)

CONCLUSÃO




.
Enquanto
Fico aqui
pastando,

torrando
os meus miolos

moles


chego a conclusão

viver é o problema
não a solução

(Elza Fraga)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

CONSELHO

.
Sem grito, sem riso
sem choro, sem nada

apenas

a mão estendida
a cara lambida,
sofrida, chorada
largada na estrada

Enfia nos bolsos
as mãos recolhidas
e os lanhos do rosto
a sujeira invasiva
o medo
o desgosto

e parte pra outro!

(Elza Fraga)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

TENHO MEDO

...
Tenho medo
de espiar o segredo
guardado no fundo
do seu mundo
interior

e descobrir
que lá não estou

tem outra
enclausurada
não sai pra nada
trancada
nos pensamentos,
momentos,
lembranças, saudade

parida e doída
verdade mais certa.

E se eu soltar
a prisioneira
corro o risco
de perder a vaga
quarto e sala
sem dependências

na sua consciência
incompleta

(Elza Fraga)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

AVESSOS

.
Tô no sufoco, no osso,
no caroço,
a cara revirada
e o pescoço
olhando pra ontem
abestado.

acho que dormindo
dei mal jeito
no corpo

devo ter virado
do avesso
e nem senti
e fiquei andando
por aí
o dia inteiro

do lado errado

deixando a mostra
o feio

do chuleado

(Elza Fraga)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

DOWNLOAD




.
Cansei
de amores suados
homens mutáveis
ao sabor do vento
com cara de tempo
ruim.

Cansei de histórias
sem mim
apenas o ego
e a barriga do cego
que no fim
nem me enxerga
mais

Então nem vem
que não tem
porque agora
eu quero paz,

não te mete

que, de hoje em diante,
só namoro na internet.

(Elza Fraga)

RODOPIADOS




.
Dança comigo
colado
encosta teu corpo ao meu
tão encostado
que não passe
sequer um pensamento
entre
o meu e o teu
ventre

Depois
d'eu tonta ou louca
me toma
um beijo da boca

leve o que puder
e quiser
de mim

E então
por fim
me adormeça
ninando
assim
coçando a cabeça
cantando
antigas cantigas

e desapareça
nas sombras...

Que a tua presença
me assombra
as noites.

Preciso de uma overdose
de um porre
de prazer
de engolir teu gosto
inteiro
sem pudores
regras, leis
pra tomar vergonha
e te esquecer

de vez!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

MEMÓRIAS DERRADEIRAS

.
Levantei sorrateira
sai rasteira
como cobra sinuosa
me perdi no mundo

Se profundo foi o sofrimento
não me arrependo

porque morei
eternamente moça
a vida inteira

nas suas memórias derradeiras

(Elza Fraga)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

CHEIRO DE FÊMEA





Um jato de Quartz
atras
da orelha esquerda
da direita
metódicamente,
econômicamente

Enquanto penso
na carestia
nos preços
pela hora da morte
e me arrepia
a idéia
embora remota
de ter que abrir mão
do perfume,
por caro!

Ah, eu sem cheiro
não sou nada
sou uma fêmea
qualquer
nem se nota
nem se faz reparo

Mas com o Quartz
borrifado
atras da orelha
nos pulsos
na nuca
(atras do joelho)

Viro eu,
viro a mesa,
viro o jogo
olho no espelho
e vejo a beleza
que vem do cheiro

Abro a porta e saio
poderosa,
esqueço idade,
ano, tempo,
balançando
a juba
ao sabor do vento

-------------------

nem um salto quinze
agora me derruba

(Elza Fraga)

terça-feira, 12 de maio de 2009

MIMO DE AMIGO

Ganhei este poema do Betusko,
amigo querido que me pegou com a boca na botija,
corujando poema de filho, no Portal Literal.
Brigadim, meu querido, você muito sensibilizou
a poeta.
Meu carinho em forma de bitokitas, todas de luz, procê.


Para Elza Fraga

Olhem, amigos!
Flagrei a Fraga
flagrando seu filho.
Bom poeta este menino,
destes de abrir janelas e postigos,
de fincar a cunha nas rachaduras da alma
de cortar nos dentes, angústias e canduras.
Oxalá a Poesia os envolva – mãe e filho
e com sua baba divina os proteja
para todo o sempre.

Betusko
(Roberto Lopes Jesus)
:)

domingo, 10 de maio de 2009

PARENTESCO

(A todas as mães que, como eu, não conseguem ser santas.
Pedem somente o direito a condição de mulher.
E acham que já está de bom tamanho!)

.
Tudo que sei
e porque lembro vagamente
é que pari.

Pari com dor
e pari com corte

pari sem sorte

Então sou mãe!

És mãe?!
Perguntam
num assombro
e eu respondo:
Sou.

seco assim
e basta

que ser mãe é tarefa para poucas?
As que tem cara de mãe
jeito de mãe,
gesto de mãe

não me copiam, com certeza

As que põe mesa,
fazem cama,
arrumam casa

não são da mesma forma

são estranhas criaturas
abdicadas do seu ser
pra ser um outro ser
qualquer...

porque parir
é para todas
com a mínima competência
em arrumar parceiro

mas ser mãe,
destas com zelo
no olhar
só para as santas

não pra mortal
como eu
vivendo em corda bamba

e eu caramba,
por ironia
sequer
consigo ser só mulher
por todo um dia...

(Elza Fraga)

NOTICIÁRIO

.
Deu no jornal

Atrás da mesa.

Testemunhas:
Um computador
lâmpadas acesas
e o zelador
(escondido)

Resultado
inesperado
positivo

se for menino
Noticiário,
se for menina
nome nem tem
escolhido
(ainda)

mas quando crescer
vai ser
professora, médica
dentista,

nunquinha
jornalista!

(Elza Fraga)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

SEM UM PINGO DE MODÉSTIA




.
Eu nunca ensinei nada
a ninguém
o que sei nem a mim
me basta
não tenho pedigree,
não tenho pose,
não tenho casta

Nunca escrevi uma linha
diferente,
desse tipo de verso
que preste,
e que algum ausente
da vida
lesse e dissesse
nossa, é quase uma prece
pra se orar
nas horas derradeiras


Nunca fui linda,
mas nunca fui feia

nunca fui puta,
mas nunca fui santa

mas na vingança
não me fiz
lavadeira, cozinheira,
arrumadeira
de nenhum macho
chato

Não acho que foi premeditado
foi ditado lá do espaço

Porque eu não vivo
como os modestos
que se reconhecem

Apenas passo!

LINHA DE CHEGADA

.
Estou tão só
que o silêncio que me cerca
faz um barulho intenso
zumbindo
nos ouvidos

Amados, parceiros, amigos
todos sumiram
na esquina do tempo

deixando um oco
bem aqui no centro
do peito

Não sei de que jeito
isso se conserta
e tenho pressa de chegar
ao derradeiro

Porque todos que estavam lá
comigo
na linha de largada

chegaram primeiro

(Elza Fraga)

sábado, 25 de abril de 2009

PRA NUNCA

.
Quando amarrei você
com nó de marinheiro
na mediocridade
desta minha vida
pensei assim

como sou sabida!

Engano!

E me convenço mais disso
a cada ano
perdido
partido

É só olhar dentro
deste seu olho triste
pra saber
que o pra sempre juntos

não existe.

(Elza Fraga)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

BEM FEITO!

.

Depois que
eu fugi
como uma besta
é que percebi
a insensatez
do meu mau feito

Você sempre foi
o perfeito
pra mim.
O do meu jeito


Sobrou no fim
seu sorriso
na minha cabeça
e este arrependimento
ardido

Bem feito!
Eu merecia nem ter nascido
assim

com toda esta leseira
e com tanto tempo
vago
pra fazer asneira!

(Elza Fraga)

terça-feira, 7 de abril de 2009

TENTATIVA NUM BEIJO ASSOPRADO

.
Sopro,
como se fora Deus
a vida
pra dentro do teu
pulmão

em ares quentes

pra tentar
te fazer meu
devoto, crente,
penitente

pra sempre!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

PÁSCOA - TRISTE REPARAÇÃO







Senhor
eu nunca pesquisei
a Tua cor
a Tua etnia.
Não quis ler
Tua biografia.
Me ative só no principal,
Teu coração
doado em toda a dor,
pra nos fazer aprender
sobre o amor
Agora,
tanto tempo já passado,
estou aqui
nesta triste missão
de Te pedir perdão.
Perdão por cada um de nós
que Te ungiu com pedras,
Te feriu,
Te olhou nos olhos
e Te cuspiu.
Perdão, Jesus,
Meu Mestre e Salvador
por toda a dor que o homem
Te infligiu
Pois este erro pertence
a mim também
por extensão,
e que o Teu renascimento
a cada ano
nos traga o arrependimento
e a redenção

Amém, Amém, Amém!

(Elza Fraga)

CONTRA A CORRENTE

Ser carambola de quintal
uva na parreira
fruta madura
despencada da mangueira
moleca tola de fazer besteira...

E ver a vida a passar
na minha frente
tentar correr atrás
meio a força
meio a medo...

E me saber
impotente
brinquedo de quebrar
da vida má,

a me arrastar
- nadando -
contra a corrente.

(Elza Fraga)

domingo, 5 de abril de 2009

SAUDADES DO QUE NÃO VIVI

.
Meus olhos
rasos
de saudades
de coisas que nem vi
e nem vivi

de amores apenas
esboçados
em desenhos
toscos
na mente
onde amareleci
o antigamente.

Tudo irrealmente doído.

A alma sente
diuturnamente
o que poderia
ter sido
e não foi
virou jamais
por covardia
como um membro amputado
que ainda dói
demais.

Como a pontada aguda
do nós

que não fui capaz
de compor
e nos deixei
eternamente

a sós.

(Elza Fraga)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

SEMPRE É SOLITÁRIO O SOFRIMENTO

Por onde eu andava
enquanto tu sofrias
as dores
e o frio
da alma vazia
de esperança e sonhos?

Por onde eu andava
enquanto te agitavas
em sonhos pesadelos
de horrores e de medos?

Por onde eu andava
enquanto o pranto amargo
escorria tuas faces
desenhando vincos
refletindo um mundo
de monstros noturnos?

O meu sorriso mudo
tatuado na cara
contava
que eu andava
longe
mesmo a teu lado
mesmo ombro a ombro

Todo o ser é só
ilha isolada
quando o desespero
encontra a alma aberta
e entra porta a dentro
e faz a sua morada
no centro

dum coração deserto

(Elza Fraga)

sexta-feira, 6 de março de 2009

OS QUATRO CANTOS DA LUA

.
HOMENAGEM AS MULHERES
PELO DIA 08/03.
DIA DA MULHER É TODO DIA,
ESTE TAMBÉM!



Mulher é quase sempre lua
aquela beleza intocada,
enrustida, invertida,
clareando quando passa
mesmo vestida está nua.
mulher é quarto de lua
luzindo cores no ato
simples, corriqueiro,
de pentear o cabelo
como se fossem seus raios.

Mulher as vezes crescente
deixa os que a cercam dementes
dependentes, inseguros
as vezes mingua e sai fora
queixos caídos no chão
onde ela pisa pesado
com a ponta do seu sapato
em surpreso coração...

As vezes nova atiça
porque novidade espicaça
os sentidos... dá cobiça...
mas quando ela fica cheia,
aí é que fica bonita
pega o raio do cabelo
joga por trás do ouvido
desprende o laço de fita
e nesse gesto estudado
perfuma o ar inteiro
deixa o rastro do seu cheiro
desce em muitos luares
redonda clara, brilhante

Só faz exibir seus encantos,
nunca vai ser tua presa,
submissa, doce amante...
escapa, volta pra toca
lá do outro lado do mundo
e continua brilhando
nos quatros cantos da rua!

(Elza Fraga)

quarta-feira, 4 de março de 2009

PRA QUANDO CHEGAR MEU OUTONO

.
Quando enfim
me despir do cansaço
abrir os meus braços
fizer a comida
preparar a bebida
arrumar o meu colo

te chamo pra vida.

Quando enfim
eu limpar os meus olhos,
arrumar meu vestido
com os poemas paridos
e a tristeza for embora
pra lá do infinito

te mando notícias.

Quando enfim
a alma pequena
alçar céus imensos
se prender
nas estrelas
pra que eu nem mais veja
os rios correndo
descendo ladeiras
no mar se perdendo

te armo a mesa.

Quando enfim
os meus olhos secarem
e a matéria nem sangre
mais
os suores das dores,
e me nascerem flores
em cada orificio
jamais explorado

te dou meu ofício,
meu corpo, meu carma,
e meus estertores

te dou minha alma
-o chão onde piso,
em troca
de um riso
suave, sereno

te dou meus favores
amarelecendo
em cores
de um outono
de folhas pisadas
ao sabor da sorte

re-nascendo
da boca da morte

no vento.

Elza Fraga)

terça-feira, 3 de março de 2009

(I)MACULADA




.
Todos os orificios
tomados
maculados
conformados
com a sorte

sabendo que o gozo
é rápido

como a morte

(Elza Fraga)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

JUSTIFICATIVA

Nada do que escrevo
sou eu
ou me pertence

são fatos
vindos no vento

são fotos estranhas
colhidas
nas entranhas

do tempo

(Elza Fraga)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A BEIRA DO ABISMO

...
Minha mente
meu cão de guarda
vigia cada movimento
cada detalhe
que tento esconder
espreita
descobre
rejeita!

Ela me sabe capaz
de, incoerente,
tecer atos insanos


me sabe doente
de pensamentos

E me vigia
enquanto dissimulada
cismo
a um passo apenas

da beira do abismo

(Elza Fraga)
.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CHEIRO DE TEMPO

.

Tempo esquisito
que desembesta
e corre
feito mosquito
zunindo no ouvido

enquanto o sonho
morre
no passado

e a vida fica
com cheiro de mofado

(Elza Fraga)
.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TROFÉU DO AMIGO





Esse é o Troféu do Amigo!

Esses blogs são extremamente charmosos.
Esses blogueiros têm o objetivo de se achar e serem amigos.
Eles não estão interessados em se auto promover.
Nossa esperança é que quando os laços desse troféu são cortados
ainda mais amizades sejam propagadas.
Entregue esse troféu para oito blogueiros(as) que devem escolher
oito outros blogueiros(as) e incluir esse texto junto com seu troféu!
Como o regulamento indica, só posso repassar o selo para oito blogueiros(as),
porém saliento que de forma simbólica a oferta é extensiva a todos aqueles
que têm interagido com o Tempo Inverso desde o seu nascimento.

Os nomes indicados são os seguintes:

1-Adela Casado (SensibilizArte)
2-Adrianna Coelho (Metamorfraseando)
3-Aroeira (Olivrão)
4-Beatriz Prestes (Reviver em versos)
5-Custódia Wolney (A Romancista)
6-kiara Guedes (Neste Instante)
7-Mariana (Suave Coisa)
8-Padmaya (Cosmunicando)


À Lou Vilela o meu agradecimento e a minha profunda admiração.