QUEM VEM COMIGO

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

NO FUNDO D'UM OLHO SECO



 

Enfim o livro parido, obrigada a todos que ajudaram com apoio, amor, incentivo... 
Grata por toda a energia  positiva enviada para que eu pudesse ter forças e superar os obstáculos.
Bitokitas de toda a Luz!

Elza Fraga

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MOTIM

Meu universo é inverso
vive de ponta cabeça
por mais que eu endireite
ele a noite
aproveita
a hora em que adormeço
pra fazer malcriação

e se vira do avesso
e põe o pé na cabeça
e a cabeça no chão

universo que não deixa
nem os meus versos direitos
quebra a rima
parte ao meio

Um dia
imito o seus feitos
com o jeito que Deus me fez
amarro ele nas pontas

e acerto as nossas contas

(Elza Fraga)

ALQUIMIA DO FRACASSO

E lá vou eu
de coração
na mão

tentando a transformação

fazer da matéria
uma estrela

de qualquer grandeza

ouso voar,
meio zonza,

me embolo toda
nos raios azuis,
distorço
o feixe de luz

e fico,
extática,

em oferenda.

Mas é difícil
o sangue estancar
quando

ainda madruga

e a gente
se espraia no ar,
meio fuga,

meio prenda.


(Elza Fraga)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

PROCURA-SE MÃE QUE SUMIU


Foto devidamente roubada de orkut da irmã, rsrs.



Eu nunca soube
ao certo
quantos éramos.

Só lembro de muito barulho,
da algazarra,
das risadas permeadas

de coisas bobas
[hoje morando
nas  lembranças]

antes engraçadas
por estarmos todos
crianças.

E  no meio
desta gritaria

-gigantesca
a mãe
que tudo sabia

num afã
de dar conta
de cada cria

Ela acreditava
que podia,
talvez  por isso
desse tão certo

com ela.

Mas o tempo,
inimigo implacável,
tirou a dona da roda
do nosso meio

e qual pintos assustados
espalhados
por todo o canto
nos deixou atarantados
e sem rumo

Até hoje sem prumo
procuro
aquela bruxa fada

que remexia
o tacho
e abaixava o nosso facho
com seu feitiço certeiro

e não acho.

(Elza Fraga)
.

terça-feira, 4 de maio de 2010

INQUIETUDE


Desenho de Jorge Luis Borges sobre o tango

Botei o vestido
de domingo
desbotado
os sapatos
tinindo de apertado

com salto sete
para passo lento

cabelo solto
ao vento
batom vermelho
morango

e fui procurar parceiro
pra dançar um tango

que isso é o tudo
que aguento

por enquanto

(Elza Fraga)

sábado, 1 de maio de 2010

DUO

TRAMPO

Bondade sua
ser tão generoso,
nem precisava tanto,

só o sorriso no seu rosto
já paga o trampo!


PEÃO DE OBRA

Sentou no saco de cimento,
abriu a marmita
cheirou
e decidiu,

hoje ia mandar
a patroa

pra dona
que a pariu

(Elza Fraga)

sábado, 24 de abril de 2010

RECEITA PRA ENGANAR O TEMPO

O tempo zombeteiro
pega a gente
leva na torrente.

Brinca de morta
que ele sai
da sua porta!

(Elza Fraga)

terça-feira, 20 de abril de 2010

PROFISSIONALMENTE

Não contratem
parentes
pra chorar
a minha morte

molhando meu coração
e meu caixão
sem nenhuma emoção

apenas obrigação
indecente

chamem as carpideiras

elas entendem bem melhor
desta função


(Elza Fraga)



terça-feira, 6 de abril de 2010

SÓ O QUE BASTA



Eu

mais um cachorro
triste
gemente

mais um apartamento
envolvente
[prisão quente]
me aranhando
as suas teias

mais o sangue
dolorindo
as veias
espremidas
tentando sorver
vida

mais um livro
trambolho
letras embaralhadas
no muco do olho
páginas ao léu

mais uma janela
que
aberta
dá direito
ao céu

Essa é a minha
paz
a minha
ilha

estrelas completam
a família

(Elza Fraga)

terça-feira, 9 de março de 2010

ENSAIO DE DESPEDIDA

(É apenas um ensaio, quem sabe daqui a cem anos escreva um outro melhor, rs?
Serve apenas para explicar minha ausência e para matar, um pouquinho que seja,
esta vontade enorme de poder estar inteira, novamente, na net)

.
Aos que agradei
e que- de algum jeito-
me amaram,
aos que não me suportaram,
aos afetos, aos amados,
aos desafetos confessos,
aos partidos, aos ficantes,
aos que abandonaram o barco
por fadiga,
no instante exato
do apito de partida,
aos que deixaram  melhores
[ou piores]
os momentos voantes
da minha vida.
Aos passantes, aos solidários,
aos falsos amigos, aos de verdade,
aos reais, aos virtuais,
aos que se foram
sem sequer terem tentado
atingir meu coração,
aos que conseguiram,
aos que me leram a alma,
aos que me tiraram o prumo
e a calma,
aos que espremeram meus olhos
até cair o pranto,
aos que secaram a face dolorida...
Aos que persistiram
e acompanharam
até o fim
Deixo a todos, como herança,
uma lasca enorme

de mim.

(Elza Fraga)