O ano velho espia,
e das frestas da ventania
sussurra que ficaria
caso pudesse parar,
me prometeu que viria
saudar o novo chegar
e até ainda agorinha
só vejo seu olho de vento
parado no pensamento
sem uma brisa no ar,
nem sopro,
aragem macia,
nem mesmo a sabedoria
pra receber sorridente
o ano que vai chegar
tão criança inocente
que nem sabe engatinhar.
Ah se eu pudesse voar
e voltar no firmamento
trazendo este ano velhinho
pra ensinar ao menino
a passar mais devagar
sem apressar mais o tempo.
Ah se eu pudesse enredar
a roda do firmamento
e num gesto ousado e lento
fazer o tempo parar
no primeiro segundinho
deste ano tão novinho
pra nunca mais se acabar
nas curvas do pensamento
levado aos solavancos
pelas esquinas do vento.
Ah se eu pudesse
voltar!
[elza fraga]
QUEM VEM COMIGO
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
ABANDONOS
Fiquei
encolhida,
des-escolhida,
tão desprovida
de palavras,
de gestos,
de fatos,
parada
enquanto você
virava a esquina
indo
pra sempre
pro nada!
[elza fraga]
APOCALIPSE
[caso acaso se dê o ocaso
e a terra sacuda seus parasitasviventes do dorso quente]
Algumas notas
de velha canção
dançando
sobre um solo nu,
um coração
batendo
em descompasso
cada vez mais longe,
cada vez mais baixo,
cada vez mais fraco,
meu relógio
em eterno atraso,
só isso
enfim,
foi o tudo
que restou de mim
após o ocaso...
[elza fraga]
Imagem: Foto de Fabio StachiVer mais
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
CANÇÃO PRA ACORDAR O SONHO
[Contraindicação e efeitos colaterais:
Para quem não tem controle total sobre a mente,
cuidado, escrever poesia enlouquece]
Era uma vez... Era uma vez...
um menino de sonhos
que inventei pra vocês.
Sempre que conto esta história
peço a minha lembrança
pra devolver a criança
que um dia foi meu rei.
Tinha o olho de anjo,
a pele cor do marfim,
sorriso feito de asas
voando sempre pra mim,
peito de bem querer
voz de querubim,
morava na minha infância
que era um imenso jardim.
Sempre que conto esta história
devolvo pra minha mão
o livro que escrevi,
as letras daquela canção,
a varinha de condão,
o dom da imaginação,
o sonho bom que sonhei,
e, só então,
acordo o menino
do sonho
que um dia foi meu rei.
[elza fraga]
Da série Contações de História
EMBUSTE
Acho que meu tempo
de vivente
anda nos calços
da eternidade
faz um tempão.
Desconfio
que já estou
na agonia
da prorrogação.
É premente
que comece
com maestria
a inventar
minha biografia,
não me conformo
em partir assim
vazia!
[elza fraga]
terça-feira, 27 de novembro de 2012
APRESSANDO A TEMPESTADE
Ilustração de Nicoletta Ceccoli
Entre a pele lisa
da covardia
e a destruição
do tempo
fico com a ousadia
e as rugas
da ventania
é menos lento!
[elza fraga]
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
QUANDO MORRE O POETA
Fonte da imagem: overmundo.com.br
Tudo agora
é novo
pro poeta
e o silêncio
faz parte do jogo
não deixe
que ele acorde
e se perceba
morto
[elza fraga]
COMO ERA BOM ANTES DO TEMPO
Tempo,
como o vento,
tem mania
de se insurgir
e estragar,
por atrevimento,
o que antes
era
calmaria.
[elza fraga]
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
TODO O CUIDADO É POUCO!
Poeta?
Cuidado!
Ninguém está a salvo,
não se iluda
com a aparente calma,
ele tem arma:
Palavra!
Coitado
do alvo.
[elza fraga]
sábado, 3 de novembro de 2012
MORADORES PROVISÓRIOS
Ninguém se prontifica
a penar o meu sofrer
para me dar descanso,
mas dizer
o que devo fazer
quantos....
[elza fraga]
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
É TEMPO DE NÃO SER
Estanca o sangue
que o peso de ser
me arranca
das entranhas,
a alma não aguenta,
que jorra,
que suja
a minha história
e, assim,
bem devagarinho,
enfim
me desinventa.
[elza fraga]
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
RETORNANTE
Arriei a bagagem
[pesava na alma]
no quente da rua
e,
sem eira nem beira,
sem mala nem cuia,
retornei
quase nua,
olvidei que parti.
Pronto, poesia,
mesmo que você
me receba vazia,
e me puna
com o corte
da asa
eis-me,
novamente,
aqui
de volta pra casa!
[elza fraga]
SÚPLICE
Aceita-me
como sou
e só
não desiste.
Nada mais preciso,
não estamos
na filial do paraíso,
entendo até
que ela nem existe...
Aposta tudo,
persiste
confiante
até o fim
quando a velhice
enfim chegante
vir colher
o que sobrou de mim.
[elza fraga]
terça-feira, 30 de outubro de 2012
ADULTOS NÃO SÃO CONFIÁVEIS
Ouvi
desde pequena,
por ser arredia
e avessa a estudo,
que,
quando crescesse,
se ajeitaria tudo,
ficaria grande e
inteligente...
Delírios de adultas
mentes.
O nome do que a idade
traz consigo
não é sabedoria,
é reumatismo.
[elza fraga]
VELOCIDADE
Indefinida
a vida,
não sabe se vai
ou se fica,
mas encanta
no seu curso,
no susto,
e nó na garganta,
e tanta
veia pulsando
até quando
o inesperado
marcado
num calendário
sucinto,
avisa:
-Extinto...
[elza fraga]
FORA DA FÔRMA
Não bastou
a sina
de nascer menina,
onde homens
acham
isso tudo
muito pouco?
Não bastaram
os fatos
desleais
de ser sem escolha
de classe social,
de lar,
de país,
de pais?
E um fulano
ou outro
'inda vem
empina o nariz
e diz
que tenho
quase tudo
pra ser infeliz,
e não compreende
o porquê
não sou...
Será que me querem
de cabeça baixa,
triste?
Sabe,
descobri faz pouco
que ou gente
não existe
ou é tudo louco.
[elza fraga]
domingo, 14 de outubro de 2012
CANSAÇO
Encruzilhada...
Vou ou fico?
Direita, esquerda?
Esta estrada
vida
que não leva a nada
e que ainda
me obriga
a acertar a rota
me deixa
morta!
[elza fraga]
IN-EXPLÍCITO
As minhas juras
nunca são secretas,
secreta sou eu
quando digo coisas
ao pé do seu ouvido,
duvido
que desvende
a verdade
por trás
do não dito.
[elza fraga]
sábado, 13 de outubro de 2012
VOO SOLO
Se voar fosse impossível
teríamos,
coberto de pássaros,
nosso chão.
Eu posso!
Desacredito da palavra não
assumo o risco,
que importa
os que cairam
antes de mim?
Se acredito
vo[u]o até o fim.
[elza fraga]
SOLIDÃO
Eu
dentro da caixa
embrulhada
e enfitada,
aos pedaços,
num quarto
com portas fechadas,
que importa
a cor do laço?
[elza fraga]
VIVER, É FATO, TEM RISCO ALTO
Cheguei na tal idade
em que a vida faz
aquela curva perigosa,
acentuada, sinuosa
e não sinalizada.
'Se' a gente sobrevive,
não despenca no abismo
e nem sai da estrada,
fica com o direito adquirido
de falar suas verdades,
mesmo que isso irrite
a mais da metade
de amigos e similares.
Se eu já era um risco
a própria integridade,
me aguardem...
Tirei o pé do freio
e esqueci a embreagem.
[elza fraga]
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
ASSIM OU ASSADO?
Sabe aquele dia
que você sabia
que deveria ter rasgado
do calendário
ou pulado todo
em amarelinhas,
mas não achou a casquinha
de banana
pra marcar quadrado?
O meu veio hoje,
assim,
sem aviso
apareceu do nada
torto, estabanado.
Me deixou a dúvida
enfim,
fico com
Sorriso amarelo
ou cara de tacho...
Assim ou assado?
[elza fraga]
CIRANDADA
Quem me olha
e não conhece
não enxerga a esperança
dentro da minha matriz
e nem sabe
e nem diz
que eu também
já fui criança,
nem sabe as coisas que faço,
nem sabe as coisas que fiz.
Brinquei de roda ciranda,
de pique pega bandeira,
de passa anel, de amarelinha
casamento japones,
de médico, de casinha,
de pião e de boneca...
Mas quem me olha direito
e me conhece por dentro
não só sabe como diz,
que enquanto tiver ar
no peito
vou arrumar o meu jeito
de ser criança
e feliz!
[elza fraga]
vou arrumar o meu jeito
de ser criança
e feliz!
[elza fraga]
RESOLUÇÃO ANTIGA
[causa do meu efeito
síndrome de peter Pan]
Criança ainda
tropecei nas quinas:
síndrome de peter Pan]
Criança ainda
tropecei nas quinas:
perdi a mãe.
Perdi cães,
parceiros
das esquinas.
Perdi o respeito
pelo mundo
e o seu jeito.
Perdi amigos,
um o trem levou,
outro a morte
nem se desculpou,
outra o coração parou
e era tão nova
sonhava linda
nem se sabia finda,
uma se casou
e foi embora
aí a notícia só chegou
e arregalou
meu olho
antes traquina.
E acho que aí
eu decidi
a minha sina:
Nunca mais vou deixar
de ser menina!
[elza fraga]
Perdi cães,
parceiros
das esquinas.
Perdi o respeito
pelo mundo
e o seu jeito.
Perdi amigos,
um o trem levou,
outro a morte
nem se desculpou,
outra o coração parou
e era tão nova
sonhava linda
nem se sabia finda,
uma se casou
e foi embora
aí a notícia só chegou
e arregalou
meu olho
antes traquina.
E acho que aí
eu decidi
a minha sina:
Nunca mais vou deixar
de ser menina!
[elza fraga]
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
FINITUDE
Poderia te nomear
meu cavaleiro galopante
defesa do meu forte,
ou quem sabe [?]
o cavalheiro amante
galante
oferecendo rosa
me mostrando
o norte,
bússola e prumo,
rumo importante
nesta vida
provisória,
mas prefiro
apenas
te deixar aqui,
contando minha história
de tão pouca sorte
na moldura imponente
a beira do meu leito
firmando o conceito
que nada é pra sempre,
até a minha morte!
[elza fraga]
o cavalheiro amante
galante
oferecendo rosa
me mostrando
o norte,
bússola e prumo,
rumo importante
nesta vida
provisória,
mas prefiro
apenas
te deixar aqui,
contando minha história
de tão pouca sorte
na moldura imponente
a beira do meu leito
firmando o conceito
que nada é pra sempre,
até a minha morte!
[elza fraga]
ILLUMINATO
Tal e qual a alvorada
aguardando o colibri
pra planar,
riscar o traço,
desenhando a manhã,
vindo abrir o alarido
a alegria do grito
pros pardais e bem-te-vis.
Eis-me aqui
braços abertos em cruz
esperando teu abraço.
Nunca vi
nada me trazer mais luz
nem com tamanho
estardalhaço
[elza fraga]
vindo abrir o alarido
a alegria do grito
pros pardais e bem-te-vis.
Eis-me aqui
braços abertos em cruz
esperando teu abraço.
Nunca vi
nada me trazer mais luz
nem com tamanho
estardalhaço
[elza fraga]
ESCUDADA
Quero tudo
no primeiro gole
beber da vida
a posse
não perder
jamais
a taça
do bem
e da maldade
que a vida
traz
chega de amenidades.
[elza fraga]
não perder
jamais
a taça
do bem
e da maldade
que a vida
traz
chega de amenidades.
[elza fraga]
PRESSÁGIO
esclusa de mim,
ponderando
meu medo,
meu erro,
minha culpa.
Pressinto...
Se porventura
me aventurasse
no labirinto
que a vida cruza.
[elza fraga]
sábado, 6 de outubro de 2012
METAMORFOSE
Imagem: Estátua de Hera, deusa da família.
Parti
de onde nunca
deveria ter saido,
fugindo de ti
fugi de mim.
O trem que apitara
de onde nunca
deveria ter saido,
fugindo de ti
fugi de mim.
O trem que apitara
longe
enfim chegara ali,
aprisionando,
levando
o resto
que sobrou
do meu festim.
Cheguei
nem Deus sabe
em que estação
saltei.
O trem seguiu
e eu fiquei
ser mais extático
como
pintura sem assinatura
em tela na parede
de casa inabitada
não movimentei
nenhuma engrenagem,
estacionei
pra toda a eternidade
numa prévia
do morrer.
Sabe a estátua
do olhar perdido
no meio da praça
que cruzas
altivo como um deus
ao entardecer?
Essa
sou eu.
[elza fraga]
enfim chegara ali,
aprisionando,
levando
o resto
que sobrou
do meu festim.
Cheguei
nem Deus sabe
em que estação
saltei.
O trem seguiu
e eu fiquei
ser mais extático
como
pintura sem assinatura
em tela na parede
de casa inabitada
não movimentei
nenhuma engrenagem,
estacionei
pra toda a eternidade
numa prévia
do morrer.
Sabe a estátua
do olhar perdido
no meio da praça
que cruzas
altivo como um deus
ao entardecer?
Essa
sou eu.
[elza fraga]
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
DAS CARTAS QUE ME DESTE - I
Neste dia qualquer
do mes da primavera,
ou seria do verão, inverno,
outono?
Nada importa
sequer
a data certa
pois só quero
mesmo
que entendas
o quanto me atropela
o teu sorriso
largo, fundo,
molhado,
sequer
a data certa
pois só quero
mesmo
que entendas
o quanto me atropela
o teu sorriso
largo, fundo,
molhado,
calado
no canto
da tua boca aberta
como promessa...
Por isso te escrevo.
Pra isso te escrevo.
Só quero que percebas
o meu medo
deste amor perder raízes
e deixar sem florir
dentro de mim
este jardim
plantado com as sementes
deste teu riso
quente
que penso meu
atravessando a morada
do pra sempre.
[elza fraga]
no canto
da tua boca aberta
como promessa...
Por isso te escrevo.
Pra isso te escrevo.
Só quero que percebas
o meu medo
deste amor perder raízes
e deixar sem florir
dentro de mim
este jardim
plantado com as sementes
deste teu riso
quente
que penso meu
atravessando a morada
do pra sempre.
[elza fraga]
AMAR É COLETIVO...OU NÃO
Tem gente
que não sabe dividir
afeto,
ou ama A
ou ama B,
se começa a amar C
esquece o resto do abecedário.
Depois coloca a culpa
na corrida
louca do tempo
nos males
que nos vem com a vida
pra todos
em igual medida.
E ainda acha,
com argumentos
inusitados,
que os descartados
são os culpados!
[elza fraga]
se começa a amar C
esquece o resto do abecedário.
Depois coloca a culpa
na corrida
louca do tempo
nos males
que nos vem com a vida
pra todos
em igual medida.
E ainda acha,
com argumentos
inusitados,
que os descartados
são os culpados!
[elza fraga]
ESTACIONÁRIO
O gosto
na lingua
lembra
a mingua
dum tempo
em que só havia
esperança,
é o passado doendo,
prisão
da lembrança.
em que só havia
esperança,
é o passado doendo,
prisão
da lembrança.
Não foge
mesmo com portas
abertas
sem comando
feito
pesadelo
de criança dormindo
em total desmazelo
até quando?
[elza fraga]
mesmo com portas
abertas
sem comando
feito
pesadelo
de criança dormindo
em total desmazelo
até quando?
[elza fraga]
terça-feira, 2 de outubro de 2012
RENUNCIA-AÇÃO
Quero andar no teu rítmo...
Tão difícil!
Me atropelas
nos teus passos largos,
intensos
como a fúria
do vento no rio,
enquanto tento
acompanhar
com o meu andar
tão lento,
te perco no vazio.
'Inda vislumbro teu vulto
dobrando a esquina
do final dos tempos
e sento
na quina do mundo
em cima do nada,
toda desistência,
esperando conformada
a próxima existência.
[elza fraga]
intensos
como a fúria
do vento no rio,
enquanto tento
acompanhar
com o meu andar
tão lento,
te perco no vazio.
'Inda vislumbro teu vulto
dobrando a esquina
do final dos tempos
e sento
na quina do mundo
em cima do nada,
toda desistência,
esperando conformada
a próxima existência.
[elza fraga]
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
MAPE[L]AMENTO
Marquei a hora
e o lugar
por ironia,
agendar dor
de ida
é idiotia,
não me contive
nem pude deixar
ela se ir
assim,
sem registrar
o estive aqui.
Chorei um mar
e afoguei
secretamente
um monte de gente
que nem sabia
que eu existia.
Foi bem ali
naquela esquina
pendurada no ar
quando o dia nascia
que eu morria.
[elza fraga]
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
A DERRADEIRA
Usei
uma a uma
todas as fantasias
mundanas,
e a cada troca
que fazia
me despia
de mim,
ficava mais nua
quase plana,
ganhava em leveza
perdia massa,
se bobeasse
flutuava.
Até esta derradeira
afinal,
esqueleto
final.
O fim do enredo,
do medo,
da trama,
nada mais ilude,
engana.
Agora é a hora
o acerto do
eu mais eu,
sem interferências,
incoerências,
insistências
do ser.
Morreu a inocência,
o não sei,
e concordo
e aceito
e assino
assassina:
Obra completa
me acabei!
[elza fraga]
SOLO DA VAIDADE
Quem é esta
por trás
desta biológica bolha
em movimento
que me diferencia
do morto,
que força a
minha escolha
e reveste
o eu
suposto?
Quem anima,
pernas, tronco, membros,
e faz meu corpo bailar
este bailado vivo e torto?
Quem é a Voz
que desliza a lingua
e se faz som e barulho
vindo dum soturno mundo
interior
que tem mais prazer
em ficar quieto, mudo
e louco?
Quem é esta alma
aturdida
que não se conhece
e vive inventando histórias,
criando a vida
que nem merece
só pra não passar
despercebida,
escura sombra sem luz
perdida,
e que luta
apeando a cruz
na beira da estrada
só pra deixar seu nome
gravado num epitáfio
-jazigo perpétuo-
fugindo da cova rasa
a que fez jus?
[elza fraga]
A LIBERDADE NÃO ABRE ASAS SOBRE NÓS
Não existe liberdade
e nem verdade,
apenas bem e mal,
deste lado do portal.
Esbravejem,
esperneiem,
cantem bravatas,
tontas baratas,
que ser livre é centelha
piscando
no horizonte
zunido de abelha
nem tão longe.
Mas a taça
onde se guarda
a preciosa
receita de voar
por altos montes
ainda está
em Mãos Alheias
cheia
do doce vinho
que embriaga
e solta amarras
em noites
de
Lua cheia!
[elza fraga]
esperneiem,
cantem bravatas,
tontas baratas,
que ser livre é centelha
piscando
no horizonte
zunido de abelha
nem tão longe.
Mas a taça
onde se guarda
a preciosa
receita de voar
por altos montes
ainda está
em Mãos Alheias
cheia
do doce vinho
que embriaga
e solta amarras
em noites
de
Lua cheia!
[elza fraga]
POEMA TOLO PRA GENTE TORTA
[Desculpem se omiti o CEP]
'Não entendo' gente
que se sente
mais importante
que as outras
gentes,
e olha tudo
por cima do nariz,
como se morasse
numa ponte aérea
Rio /Paris!
Ia escrever
'Não gosto',
mas gosto é coisa
tão gostosa,
acho que
o não entendo
diz mais
sobre
como vejo
esta gente duvidosa.
Até porque sou
tortamente incapaz
de desgostar
de gente
que trilha
o mesmo caminho
e é assim,
igual a mim,
bem recheada
de defeitinho.
[elza fraga]
gentes,
e olha tudo
por cima do nariz,
como se morasse
numa ponte aérea
Rio /Paris!
Ia escrever
'Não gosto',
mas gosto é coisa
tão gostosa,
acho que
o não entendo
diz mais
sobre
como vejo
esta gente duvidosa.
Até porque sou
tortamente incapaz
de desgostar
de gente
que trilha
o mesmo caminho
e é assim,
igual a mim,
bem recheada
de defeitinho.
[elza fraga]
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
CONJUGANDO DÚVIDAS
Amar é condicional?
Incondicional?
Eterno ou transitório?
Normal?
Pra poucos escolhidos?
...Se ama amigo
ou só se ama amante,
ficante,
namorado?
Filho, marido,
agregado?
É verbo ou
pode ser adjetivo?
...Se colorido
qual a sua cor?
Tem nuances,
tons suaves,
seria incolor
e transparente,
talvez um cinza triste,
ou raia no vermelho quente?
Se é que existe!
[elza fraga]
...Se ama amigo
ou só se ama amante,
ficante,
namorado?
Filho, marido,
agregado?
É verbo ou
pode ser adjetivo?
...Se colorido
qual a sua cor?
Tem nuances,
tons suaves,
seria incolor
e transparente,
talvez um cinza triste,
ou raia no vermelho quente?
Se é que existe!
[elza fraga]
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
O ESTRANHO
Tinha olho de borboleta
no momento da espera
na espreita
de colher a primavera,
sorriso de colibri
a adejar,
tentando molhar o bico,
num frenesi
de asas,
no doce das águas,
a calma do mar
na enseada
desaguando
a praia mansa
na alvorada,
e o corpo quente
das manhãs de verão
quando o sol,
inclemente,
castiga o vivente
até a exaustão.
Coração?
Tinha não!
[elza fraga]
Imagem: Internet
EU NÃO SOU DAQUI
Fera acuada
perdida na cidade
o trânsito
de gente comportada
me engole
e me desorienta.
Recuo,
me curvo
a estabilidade
e volto
perdendo a liberdade
pra jaula
clausura
no apartamento.
[elza fraga]
e me desorienta.
Recuo,
me curvo
a estabilidade
e volto
perdendo a liberdade
pra jaula
clausura
no apartamento.
[elza fraga]
ESTARDALHAÇO
Imagem: O Grito de Edvard Munch
Berra
sem covardia,
esperneia,
reclama
sem covardia,
esperneia,
reclama
das tempestades,
da agonia,
da agonia,
com vontade
até saltar o olho
esbugalhando
a cara
tenha ousadia!
É pela veia
que entra o veneno
que mata
quando se é ameno,
a vida não protege
e nem alivia
o que se esconde
dela
por apatia.
[elza fraga]
Imagem: O Grito de Edvard Munch
até saltar o olho
esbugalhando
a cara
tenha ousadia!
É pela veia
que entra o veneno
que mata
quando se é ameno,
a vida não protege
e nem alivia
o que se esconde
dela
por apatia.
[elza fraga]
Imagem: O Grito de Edvard Munch
domingo, 19 de agosto de 2012
HÓSPEDES
Quando conto
é sempre curto,
incisivo,
fraseado pouco
...
e ponto.
Quando poemo
me estendo
espreguicenta
na varanda
dos versos,
caminho inverso,
um desfiar
de não querer
acabar nunca
não se despedem
não sentem frio
não sentem fome
não sentem sono
ficam por aqui
rondando minha insônia
neste ir e vir
sem ficar
de vez
e se permitir
e se escrever,
e sem partir.
[elza fraga]
Quando poemo
me estendo
espreguicenta
na varanda
dos versos,
caminho inverso,
um desfiar
de não querer
acabar nunca
não se despedem
não sentem frio
não sentem fome
não sentem sono
ficam por aqui
rondando minha insônia
neste ir e vir
sem ficar
de vez
e se permitir
e se escrever,
e sem partir.
[elza fraga]
terça-feira, 14 de agosto de 2012
VOLITIVO
Tudo tão tenso.
Já se pode
prender
dentro das mãos
prender
dentro das mãos
o fio esticado
e eriçado d'alma,
a intemperança,
a impaciência,
a velocidade da fuga.
Nada mais é volátil
ou controlável,
o irreal tomou conta
das ruas.
Olho para os
quatro lados
espio pelas nesgas do concreto
nem em suas
paredes nuas
nada é certo
só o medo,
constante e amigo,
vinca mais e mais
a profunda ruga
que rasga a testa
e resseca o grito
não há abrigo
seguro
deste lado do mundo.
Penso em outras mudanças
pras nuvens
pra esperança
mas todos os voos estão lotados
há de se aguardar
é longa a fila
de espera
me iludo
com a chance irreal
de uma desistência
ocasional
e um lugarzinho na janela.
[elza fraga]
e eriçado d'alma,
a intemperança,
a impaciência,
a velocidade da fuga.
Nada mais é volátil
ou controlável,
o irreal tomou conta
das ruas.
Olho para os
quatro lados
espio pelas nesgas do concreto
nem em suas
paredes nuas
nada é certo
só o medo,
constante e amigo,
vinca mais e mais
a profunda ruga
que rasga a testa
e resseca o grito
não há abrigo
seguro
deste lado do mundo.
Penso em outras mudanças
pras nuvens
pra esperança
mas todos os voos estão lotados
há de se aguardar
é longa a fila
de espera
me iludo
com a chance irreal
de uma desistência
ocasional
e um lugarzinho na janela.
[elza fraga]
terça-feira, 7 de agosto de 2012
PAUSA PARA DESCANS-AÇÂO
De vez em quando
mando
meu coração voar
pela janela
dos olhos
e procurar
além dos abrolhos
porto seguro,
praia em calmaria,
pra deitar um pouco
minha alma
recuperar a calma
espantar a agonia
com que o mundo
[com seus buracos
negros e profundos]
nos propicia
sem a mínima
economia!
[elza fraga]
e procurar
além dos abrolhos
porto seguro,
praia em calmaria,
pra deitar um pouco
minha alma
recuperar a calma
espantar a agonia
com que o mundo
[com seus buracos
negros e profundos]
nos propicia
sem a mínima
economia!
[elza fraga]
O QUE TE DOU DE MIM
Sou feita
de amenidades,
de coisas bem pequeninas.
Nada muito elaborado
dentro deste meu tacho
de anciã, mulher, menina...
Minha alquimia impura
é mistura de manias
desencontradas,
vazias.
Não sou ouro
não sou prata
sou remendada
de lata
onde a fervura esgarçou
só o roto coração
soldado
com um raio de sol
tirado
de pleno verão
é que trago
de valor
pra colocar na tua mão.
[elza fraga]
dentro deste meu tacho
de anciã, mulher, menina...
Minha alquimia impura
é mistura de manias
desencontradas,
vazias.
Não sou ouro
não sou prata
sou remendada
de lata
onde a fervura esgarçou
só o roto coração
soldado
com um raio de sol
tirado
de pleno verão
é que trago
de valor
pra colocar na tua mão.
[elza fraga]
MINAS GERAIS
[Encomendas ao meu irmão]
Quando voltar
da Minhas Gerais
me traga
de lembrança,
por favor,
o correr do rio
desde a nascente,
desenhando a montanha,
uma semente
de café
um queijo bom
em forma de pão,
um doce de leite
e um de mamão,
na memória
e na sua história
de raiz mineira,
traga-me o cheiro
que só lá existe
das manhãs
e se ainda
tiver espaço na bagagem
Traga-me a viagem
transbordando pelo olho
e nem precisa dizer nada
apenas traga!
[elza fraga]
por favor,
o correr do rio
desde a nascente,
desenhando a montanha,
uma semente
de café
um queijo bom
em forma de pão,
um doce de leite
e um de mamão,
na memória
e na sua história
de raiz mineira,
traga-me o cheiro
que só lá existe
das manhãs
e se ainda
tiver espaço na bagagem
Traga-me a viagem
transbordando pelo olho
e nem precisa dizer nada
apenas traga!
[elza fraga]
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
FENIX-ANDO
Cantarolei
a música
que foi criada
quando O Criador
moldava
a minha alma
varei o tempo
com o som
foi duro descobri-la
e acertar o tom.
Meus ossos foram
se realinhando
com a cantiga
minhas veias
bombeando
sangue novo
desvesti a pele antiga
sai parida
e me reinventei
pela milionésima vez
...agora é só colher
o sorvo
e absorver a Vida.
[elza fraga]
a minha alma
varei o tempo
com o som
foi duro descobri-la
e acertar o tom.
Meus ossos foram
se realinhando
com a cantiga
minhas veias
bombeando
sangue novo
desvesti a pele antiga
sai parida
e me reinventei
pela milionésima vez
...agora é só colher
o sorvo
e absorver a Vida.
[elza fraga]
QUANDO ME CALO
As vezes,
olhando pra dentro,
me vejo
um turbilhão de pensamentos
desencontrados,
tento escoar
toda esta lava intensa
mas a boca cala,
não consente
que eu diga
o que a alma sente
e a mente pensa
incessantemente.
Fico calada,
inflando,
e vou me conformando
com o tempo,
pois a explosão
já está
anunciada
vindo com o vento.
[elza fraga]
tento escoar
toda esta lava intensa
mas a boca cala,
não consente
que eu diga
o que a alma sente
e a mente pensa
incessantemente.
Fico calada,
inflando,
e vou me conformando
com o tempo,
pois a explosão
já está
anunciada
vindo com o vento.
[elza fraga]
ALADA
Eu sei
que posso
atravessar voando
este rio
que empata meu caminho.
Triste rio
obrigado a nadar
num desafio
correndo para o mar
até não ser
mais nada
além de um fio
Triste rio
obrigado a nadar
num desafio
correndo para o mar
até não ser
mais nada
além de um fio
no torvelinho.
Ele é sozinho
enquanto eu
sou toda asas
a levantar
o pouco peso
...Não fosse o medo
de ousar
e trocar
o meu segredo
[perdendo a liberdade]
pelas algemas
no solo do degredo.
[elza fraga]
Ele é sozinho
enquanto eu
sou toda asas
a levantar
o pouco peso
...Não fosse o medo
de ousar
e trocar
o meu segredo
[perdendo a liberdade]
pelas algemas
no solo do degredo.
[elza fraga]
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