QUEM VEM COMIGO

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

MAPE[L]AMENTO



Marquei a hora
e o lugar
por ironia,

agendar dor
de ida 
é idiotia,

não me contive
nem pude deixar
ela se ir
assim,
sem registrar
o estive aqui.

Chorei um mar
e afoguei 
secretamente
um monte de gente
que nem sabia
que eu existia.

Foi bem ali
naquela esquina
pendurada no ar
quando o dia nascia

que eu morria.

[elza fraga]

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A DERRADEIRA


Usei
uma a uma
todas as fantasias
mundanas,

e a cada troca
que fazia
me despia
de mim,

ficava mais nua
quase plana,

ganhava em leveza
perdia massa,

se bobeasse
flutuava.

Até esta derradeira
afinal,

esqueleto
final.

O fim do enredo,
do medo,
da trama,

nada mais ilude,
engana.

Agora é a hora
o acerto do
eu mais eu,

sem interferências,
incoerências,
insistências
do ser.

Morreu a inocência,
o não sei,

e concordo
e aceito
e assino
assassina:
Obra completa

me acabei!

[elza fraga]

SOLO DA VAIDADE



Quem é esta
por trás
desta biológica bolha
em movimento

que me diferencia
do morto,

que força a
minha escolha
e reveste
o eu
suposto?

Quem anima,
pernas, tronco, membros,
e faz meu corpo bailar
este bailado vivo e torto?

Quem é a Voz
que desliza a lingua
e se faz som e barulho
vindo dum soturno mundo
interior
que tem mais prazer
em ficar quieto, mudo
e louco?

Quem é esta alma
aturdida
que não se conhece
e vive inventando histórias,

criando a vida
que nem merece

só pra não passar
despercebida,
escura sombra sem luz
perdida,

e que luta
apeando a cruz
na beira da estrada

só pra deixar seu nome
gravado num epitáfio
-jazigo perpétuo-
fugindo da cova rasa
a que fez jus?

[elza fraga]

A LIBERDADE NÃO ABRE ASAS SOBRE NÓS



Não existe liberdade
e nem verdade,
apenas bem e mal,

deste lado do portal.
Esbravejem,
esperneiem,
cantem bravatas,

tontas baratas,

que ser livre é centelha
piscando
no horizonte

zunido de abelha
nem tão longe.

Mas a taça
onde se guarda
a preciosa
receita de voar
por altos montes

ainda está
em Mãos Alheias

cheia
do doce vinho
que embriaga
e solta amarras

em noites
de
Lua cheia!

[elza fraga]

POEMA TOLO PRA GENTE TORTA


[Desculpem se omiti o CEP]

'Não entendo' gente
que se sente
mais importante
que as outras
gentes,
e olha tudo
por cima do nariz,
como se morasse
numa ponte aérea
Rio /Paris!

Ia escrever
'Não gosto',
mas gosto é coisa
tão gostosa,
acho que
o não entendo
diz mais
sobre
como vejo
esta gente duvidosa.

Até porque sou
tortamente incapaz
de desgostar
de gente
que trilha
o mesmo caminho
e é assim,
igual a mim,

bem recheada
de defeitinho.

[elza fraga]