QUEM VEM COMIGO

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

CANÇÃO PRA ACORDAR O SONHO



[Contraindicação e efeitos colaterais:
Para quem não tem controle total sobre a mente,
cuidado, escrever poesia enlouquece]

Era uma vez... Era uma vez...
um menino de sonhos
que inventei pra vocês.
Sempre que conto esta história
peço a minha lembrança
pra devolver a criança

que um dia foi meu rei.

Tinha o olho de anjo,
a pele cor do marfim,

sorriso feito de asas
voando sempre pra mim,

peito de bem querer
voz de querubim,

morava na minha infância
que era um imenso jardim.

Sempre que conto esta história
devolvo pra minha mão
o livro que escrevi,
as letras daquela canção,

a varinha de condão,
o dom da imaginação,
o sonho bom que sonhei,

e, só então,
acordo o menino
do sonho

que um dia foi meu rei.

[elza fraga]

Da série Contações de História

EMBUSTE



Acho que meu tempo
de vivente
anda nos calços
da eternidade

faz um tempão.

Desconfio
que já estou
na agonia

da prorrogação.

É premente
que comece
com maestria

a inventar

minha biografia,

não me conformo
em partir assim

vazia!

[elza fraga]

terça-feira, 27 de novembro de 2012

APRESSANDO A TEMPESTADE



Ilustração de Nicoletta Ceccoli


  Entre a pele lisa
da covardia
e a destruição
do tempo

fico com a ousadia
e as rugas
da ventania

é menos lento!

[elza fraga]

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

QUANDO MORRE O POETA



 
Fonte da imagem: overmundo.com.br
 

Tudo agora
é novo
pro poeta

e o silêncio
faz parte do jogo

não deixe
que ele acorde

e se perceba

morto

[elza fraga]

COMO ERA BOM ANTES DO TEMPO



Tempo,
como o vento, 
tem mania
de se insurgir
e estragar,

por atrevimento,

o que antes
era
calmaria.

[elza fraga]

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

TODO O CUIDADO É POUCO!



Poeta?
Cuidado!
Ninguém está a salvo,
não se iluda
com a aparente calma,

ele tem arma:
Palavra!

Coitado
do alvo.

[elza fraga]

sábado, 3 de novembro de 2012

MORADORES PROVISÓRIOS



Ninguém se prontifica
a penar o meu sofrer
para me dar descanso,

mas dizer
o que devo fazer

quantos....

[elza fraga]

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

É TEMPO DE NÃO SER



Estanca o sangue
que o peso de ser
me arranca
das entranhas,

a alma não aguenta,

que jorra,
que suja
a minha história

e, assim,

bem devagarinho,

enfim
me desinventa.

[elza fraga]

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

RETORNANTE



Arriei a bagagem 
[pesava na alma]
no quente da rua

e,
sem eira nem beira,
sem mala nem cuia,

retornei
quase nua,
olvidei que parti.

Pronto, poesia,

mesmo que você
me receba vazia,
e me puna
com o corte
da asa

eis-me,
novamente,
aqui

de volta pra casa!

[elza fraga]

SÚPLICE



Aceita-me
como sou
e só
não desiste.

Nada mais preciso,

não estamos
na filial do paraíso,

entendo até
que ela nem existe...

Aposta tudo,
persiste
confiante

até o fim

quando a velhice
enfim chegante
vir colher

o que sobrou de mim.

[elza fraga]