QUEM VEM COMIGO

sexta-feira, 26 de abril de 2013

CONTANDO TEMPO



Quando me for
que seja noite, por favor,
não me deixe,
Senhor,
perder o por do sol,

o desmair do girassol.

Suavemente,
no meu leito quente,
não nas mãos
de algum indiferente,

num lugar frio
onde todo leito
é igual,

depósito inumano,
indecente,

de gente.

[elza fraga]

FOI BEM ASSIM...


Não foi repentinamente
Não foi por querer,
propositadamente.
Só lembro
que ensandeci.

Acho
que me perdi
e comecei a acumular histórias
a cada passo errado
dentro deste globo louco
que chamam de mundo.

Quando cheguei ao fundo
de mim mesma
e vi tanta sujeira,
não consegui
me equilibrar no imundo

e desliguei todos os fios
que eu via

até afinal nascer a letargia.

Foi bem assim....

[elza fraga]

terça-feira, 16 de abril de 2013

ATALHO


[Tributo a Clarice]


Sensação de estar perdida,
olho pro lado,
ainda vislumbro vida,
menos nítida, mais difusa...

Volto confusa
em busca do atalho.

Acho
endireito o rumo

vejo que a estrada principal
sempre esteve perto

entro quebro a quina
da esquina

e sumo

[elza fraga]

DIVIDIDA



Só o corpo
virou a esquina

passo roto.

A alma
parada no desgosto
espera 

florescer
a primavera

no sorriso fugitivo

do seu rosto.

[elza fraga]

sábado, 6 de abril de 2013

LACERADA


(Escondo o lacerado para que teus olhos não medrem e,
por fim, te apartem de mim...)


Visto-me com retalhos
tecidos
com o fio de vida
esgarçado,

costuro atalhos.

Escondo ombros
e seios 
sob larga echarpe
onde traceja
a marca da ferida
que o sangue 
ainda fareja

só pra que tu
não vejas!

[elza fraga]

MARCA DE NASCENÇA



Só aos poetas foi dada
a loucura contida nas palavras,
com o nascimento

como um dom presenteado pelas fadas. 

Aos outros loucos 
[os que a vida se encarregou 
de transformar aos poucos]

só foi dado o silêncio
e o nada!

[elza fraga]

ASSASSINATO



Esvaziou o peito
do ar que o amor
guardara
por um bom tempo,

sufocou
até perder
a inspira-ação,

matou
por asfixia
o sentimento,

até já,
volto logo,
nem foi dito...

Nunca mais foi visto.

[elza fraga]

MUDANÇA DE ROTA



Preferia ser alto mar,
não água mansa
da costa
batendo na areia,

em bravatas
lambendo rochedos.

Só uma onda
perdida
no meio do oceano,

sem medo,
sem planos,
sem enredo.

Só o ir e vir
constante
beijando o sono
dos navios

espalhando a lua cheia.

[elza fraga]