QUEM VEM COMIGO

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CONSERTANDO Á-VIDA



Se o tempo não fosse tão cretino,
mais consciente
e nem tão menino
mimado

e me deixasse apagar
com borracha escolar
algumas rasuras

acertaria fatos.

Amaria menos
perdoaria menos ainda

porque quando a vida enfim 
virar a obrigatória
esquina 

só ficará na lembrança
do desafeto

minha postura 
como pura covardia

o meu perdão
como acintoso gesto

minha doçura
como mentirosa

e meus versos
desconsiderados

por qualidade
duvidosa.

[elza fraga]

DECISÃO


Decidi
se partir mais um amigo
pra terra
lá dos confins
onde meu olho não alcança
faço minhas malas
teço minhas tranças
pego o trem
destino fim
e ninguém mais 
me alcança
pra dizer palavras de conforto
que não me confortam
me prefiro morta
a doer assim.
[elza fraga]

domingo, 22 de dezembro de 2013

CONSOLAÇÃO ÀS AVESSAS


Você se foi
tão antes de mim,
só pra me dar
o desprazer 
de dizer
[fitando a estrela em que habita 
- e o espelho]

olha, menino,
o que a vida faz
com quem insiste
em viver
demais.
[elza fraga]

CONSIDERAÇÕES DE UM ÚLTIMO NATAL


Quem quiser ter filhos 
por perto,
no entorno
do seu inverno
pra adoçar
a viagem
da ida
- sem retorno -
seja esperto,
seja forte,
compre a briga
e prepare o ventre
pois uns se perde
ainda na barriga
outros pra vida,
alguns pra morte
que não está vaticinado
pela sorte
que exista lógica na fila,
nem espere 
“os mais velhos, por favor,
um passo à frente.”
Sobrará algum
pra tolerar a gente
nas frias noites
onde espreita a foice
na mão do nosso 
último transporte?

[elza fraga]

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

DESGOSTO

[Postado em 23 de novembro de 2013 no facebook e no tumblr]


Não tenho medo da morte
não
eu tenho é raiva,

tem mês
que ela faz colheita
muito farta

pro meu gosto.

[elza fraga]


[que acabe logo novembro 
que venha dezembro 
sorrindo, 
se abrindo
e espalhando vida nova]

DEFINITIVO



Sabes o que mais me desarvora?

É saber que
um dia

[em alguma hora
toda ficha cai]

terás tanta necessidade 
[como agora tenho eu de ti]

de me ouvir,

e aí,
provavelmente,

eu não mais 
esteja 
por aqui. 

[elza fraga]

TEM MAIS


Se fosse só a lua,
se fosse só a rua,
se fosse só essa tristeza
do vazio
nas calçadas

se fosse só o copo meio cheio
se fosse só a dor que entra no meio
do peito
e faz morada

se fosse só a danada da solidão

eu até que aguentava…

[elza fraga]