QUEM VEM COMIGO

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

UM QUASE FELIZ NATAL




Ontem eu vi chuva e frio, gente sob o céu tendo como teto nuvens derramando em abundância os humores de Deus. Vi cães deitados na lama já sem forças pra fugir da tempestade, do homem, da sina de não ter mão pro afago, do fardo de existir. Vi bêbados na esquina tentando aquecer a alma que o corpo nada mais aquece, e vi também os que atravessam ruas debaixo dos chapéus da indiferença encasacados coitados!

[elza fraga]

sábado, 19 de dezembro de 2015

TRANSITORIEDADE


(Mesmo que suas pétalas percam a suavidade e o poder de reter o orvalho, nada é inútil, o seu tecer faz a diferença, volta a roca, fia novamente, mesmo que o tecer lhe pareça uma incoerência por desnecessário)

Quando o dia
enfim teceu
em fios de magia
toda a sua Luz,
anoiteceu.
[elza fraga]


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

NÃO VIVI EM VÂO



Você já beijou alguém
só por beijar
sem ter sentimento
e olhou depois
sua cara de espanto
no espelho
e se recriminou
por não ter parado no momento
anterior ao beijo?


Você já olhou o luar
descendo no céu
(não subindo!)
e pensou
que aconteceria a alvorada
a qualquer momento
e a hora de retornar
a casa, a vida, a família
e a chatura dos minutos vazios
chegaria com o dia?

Você já pensou em sair
sem rumo
e se perder
em qualquer canto do mundo
andarilhando
aprendendo a assobiar aquela
antiga cantiga
que embalava seus sonhos
quando você ainda acreditava
que podia mudar a vida
na próxima esquina?

Se você não tem uma única queixa
um único momento de arrependimento
uma sensação do que não deveria
(ou deveria talvez)
ter feito...
desculpe
mas sua vida deu erro
de programação
e agora é tarde
recolhi a mão
e não a perderei mais na sua.

Somos diferentes,
demorei a perceber
porque eu agora sei
bem mais do que você
que tenho muito
do que me arrepender

Acho que cheguei a conclusão
que fui feliz, infeliz, feliz de novo
mudei de rota quantas vezes quis
amei mais que aguentou meu coração

mas não
vivi em vão...
[elza fraga
in "testamento - textos elaborados para morar nas gavetas da alma"]

domingo, 6 de dezembro de 2015

RECONHECIMENTO




Eu não sou eu
quando me culpo,
me condeno,
me puno, 
e peno...
Eu não sou eu
quando uso o "se"
como se fosse permitido
voltar atrás
e consertar o erro,
mas mesmo assim
prometo 
e esqueço...
Eu não sou eu
quando me ergo
em atitude de ataque
e atiro palavras duras
ao oponente...
Eu não sou eu
quando me julgo
não vivente
ou gente demais
pra conviver no caos...

Só sou eu
quando me aquieto
e caladamente
me recolho ao cais.

(elza fraga)