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terça-feira, 1 de março de 2016

CANTIGA DO FIM DO MUNDO



Se um dia a luz voltar
e espantar a escuridão
e a alma tão ferida
recusar nova estação.


Se a paz se renovar
e no mundo renascer
e a alma tão contrita
se recusar a crescer.


E qual criança doída
berrar a pleno pulmão
nunca mais que nessa vida
vou permitir o verão,


numa birra dolorida
da dor da própria razão
continuar a cantiga
insistindo no refrão


"Não vai haver verão,
nunca mais,
não vai haver verão."


Se o homem em desespero
perder toda a lucidez
e a alma entontecida
aceitar a insensatez.


Se o ódio encolher
e o amor tecer a mão
vestimentas de amparo
de amor e proteção,


e mesmo assim
a alma bendita
renegar a bendição
se trancar no próprio medo


e desinventar a vida
e mudar as estações
e arrancar do seu cenário
a esperança dos verões.


E se o mundo tão ferido
obedecer ao comando
e deixar que a alma siga
as setas do fim de tudo,


até se perder no abismo
do mais profundo oceano
caminhando com seu plano
com seu destino e sua cruz


e soprar de vez a luz...

Restaria o vazio
no meio do temporal
nunca mais nenhuma queixa


que o homem,
esse grande mal,
é que contamina o puro...


Se escutaria então a voz
do Criador universal
rouca, longe, gultural


vinda de muito fundo

deixa que vá em paz
pros quintos
do fim do mundo!


 [elza fraga]

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